No dia 09 de Outubro tinha CTG e consulta marcada, no Hospital da Estefânia. Fazia nesse dia 40 semanas + 1 dia, uma sexta feira. Às 7:00 acordei com uma dor muito forte na zona lombar. A dor veio... ficou um pouco...desapareceu. "Humm?... Querem ver?..." Às 7:30, nova dor... "bem... é melhor ir já para o hospital, mal por mal chego mais cedo e sempre veêm o que se passa..."
A consulta estava marcada para as 10:40 por isso cheguei pouco depois das 9:00 para fazer o CTG que eu já sabia que ia demorar um pouco mais. Esperei, esperei, esperei... e perto das 11:00 fui à recepção saber porque ainda não me tinham chamado, será que as enfermeiras se esqueceram de mim?! "Ah, perdemos o seu processo e ainda não o encontrámos..." "E era suposto eu ser informada disso exactamente quando??? Vá, procurem lá o processo que eu não tenho nada a ver com isso!"
Meia hora depois fui chamada para o CTG. "Sabe enfermeira, tenho tido algumas contracções... com DOR!" "Ah, estão aqui registadas, oh filha se isto lhe doi olhe que o parto vai ser de doidos! Mas ainda está aqui para durar, isto não é nada!"
Sendo assim...
Às 12:30 recebo indicação da minha médica que o melhor era ir "coer qualquer coisa" que a consulta ainda ia demorar um pouco. Fui comer um croissant com queijo e um leite com chocolate (qualquer coisa, certo?...). Às 16h ainda eu estava na sala de espera das urgências à espera que me chamassem para a consulta... 16:30, "Entra Ana, vais ser examinada pela minha colega que eu já te vou ver." A colega inicia a consulta com uma ecografia, "Está com pouco líquido amniótico...vamos examinar o colo do útero", "Dra. vai examinar o colo do útero ou vai-me fazer o toque?" "Vou examinar o colo do utero" "Tem a certeza..." "Tenho a certeza". Claro que não tinha a certeza e fez-me o toque. Lamento informar. São dores horríveis. Contorci-me toda, tentei concentrar-me em manchas no tecto, na minha bebé, no salvem as baleias e tudo o mais, não há hipótese. Dói comó caraças e é de bradar aos céus! Assim que saí da marquesa, a vontade de chorar de dor e de raiva a explodir, a única coisa que disse à médica foi que nunca mais me ia tocar com um dedo sequer! Sorte a minha, era estagiária e realmente não voltou a tocar :p...
Ordem de regressar pelas 19h para nova avaliação.
Telefonei ao papá em prantos. Doía muito o que ela tinha feito e eu precisava dele comigo para me dar apoio. O papá estava a trabalhar em Oeiras mas pediu-me para ir andar um pouco, comer qualquer coisa que ele vinha ter comigo o mais depressa possível. Andei, andei, andei... Fui comer uma tosta de queijo e um copo de leite e o papá chegou. Trânsito de sexta feira, impossível, horrível! "Vamos para casa, comemos qualquer coisa e voltamos mais tarde. Como não temos jantar feito vamos buscar um franguinho e comemos antes de ir." As dores começaram mais fortes pelas 17:30, já estava no carro com o papá. Quando chegámos à churrasqueira, o papá disse para eu ficar no carro que ele ia buscar o frango. Tudo bem, pensei "Vou só esticar as pernas ali no banco de trás porque dói tanto :o(..." Assim que me sentei no banco de trás do carro senti *pof*! como uma bolha de água a rebentar no colo do útero. "Ai o banco do carro do homem! Que ainda o sujo com esta água toda!!!" Eu em trabalho de parto e só me lembro de não sujar o banco do carro... Eram 18:20. Saí do carro a correr para a churrasqueira e segredei ao papá "Despacha-te! Rebentaram-me as águas!!" "Calma, o que é preciso é calma... sabes que temos tempo... vamos a casa, comes qualquer coisa e tomas um banho" "ok..."
As contracções que estavam com 7 minutos de intervalo, dispararam automaticamente para 3 minutos de intervalo. Chegámos a casa, corri para a banheira, a água quente acalma um pouco mas não acalma tudo! As dores eram muitas e muito seguidas. Não era suposto ser assim! Não comi nada, só queria ir para a maternidade!
Chegámos por volta das 19h. Os intervalos mantinham-se no 3 minutos com a dor a aumentar. Chamaram-me para nova avaliação e quem aparece? A estagiária da parte da manhã. "Esqueça. Você não me vai tocar! Se depender de mim e de si, a minha filha não nasce!" Devo de ter sido convincente porque ela foi chamar a minha médica. "Deita-te Ana, vou ver o colo do utero." "Vai doer? Sim ou não?" Olharam uma para a outra e não disseram nada. "Sim ou não? Você já me conhece há muitos anos, vai doer ou não?" "Vai Ana, apartir de agora, tudo vai doer sempre um pouco" "Ok" Deitei-me na marquesa, ela observou-me, doeu-me brutalidades, mas não me mexi. Prefiro saber com o que conto para me preparar psicológicamente, bom ou mau.
Fui admitida, levaram-me para o andar de cima. Vesti uma fralda enorme por causa das águas e uma bata, aberta atrás. Fiquei no quarto 1, do piso da maternidade. Apartir daqui deixei de conseguir saber as horas direito. O papá veio ter comigo e acompanhou-me sempre durante as contracções. Os intervalos eram completamente desregulares, as dores inconstantes, de me levar quase a estados de inconsciência ou de mal as sentir. O papá sempre sempre comigo, calmo, sereno, em total controle da situação. Quando já quase não aguentava chamei o enfermeiro (enfermeiro Carmo, 5 estrelas, excelente profissional, calmo e objectivo), preciso de nova avaliação. Sete horas depois de as contracções começarem a sério, eu ainda só tinha 3 cm de dilatação... Não aguentava mais. "Quer epidural?" "Sim, quero!".
Transferiram-nos então para o quarto 2. Esse quarto já estava todo equipado para tu nasceres. O enfermeiro chamou a anestesista, eu deitei-me e aguardei. Quando a anestesista chegou mandou-me sentar, colocar em posição e preparou-me. Assim que me deu a anestesia, as dores acalmaram... acalmaram... acalmaram... em 15 minutos já só sentia os musculos contrairem... e descontrairem... "Vá, agora tente relaxar um pouco, vai correr tudo bem!" Mas quem é que consegue relaxar numa cama de maternidade quando tu estás quase a chegar?!? O papá adormeceu mas eu só olhava para o registo das contracções no ctg. Passadas quase 2 hrs recomecei a sentir dor, forte e muita dor! Chamei o enfermeiro, chamou a anestesista, que já era outra, estavam em troca de turno. Conversa, conversa, ela tem uma filha adoptada e que o parto dela não lhe custou nada e lá vai segunda dose de epidural! Acalmou tudo novamente... desta vez consegui dormir um pouco.
Acordei. "Hum... acho que a epidural está a passar novamente... espera... que pressão é esta no anus?... BEBÉ?!?! És tu?!?!" Chamei o papá! " A bebinha deve de estar a querer nascer!! Vamos chamar alguém!!!" "É impressão tua... Passou tão pouco tempo... Vá dorme mais um pouco..." "Não, não é impressão minha, chama alguém por favor!" "Tem calma, vá... espera um pouco..." " :p! Eu chamo!!" E toquei a campainha!
Antes de aparecer o enfermeiro,entrou na sala a Dra. Carla. "Então Ana? Como estás? Como é que isso está a correr?" "Acho que ela quer sair Dra. ..""Vamos lá ver isso, eu mesma faço o toque. Olha... sim, aqui está! Prontinha para sair! Vamos já tratar disto!! Enfermeiro Carmo! Está aqui mais um para sair!!" "VÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊS???? VÊÊÊÊÊS como eu tinha razããããão????" (isto foi a mamã a dizer ao papá...).
Apartir daqui foi a correria total. Eu ainda não sentia dores mas a pressão ao nivel do anus aumentava muito. O primeiro problema foi montarem a marquesa de partos... Eu já estava deitada na cama mas ainda não tinha, de lado, os apoios para as pernas. "Dra. não se preocupe, eu faço força noutra posição qualquer!!" "Não, isto tem de ser montado!", o papá "Espere lá que isto é simples..." Eu quase a ter-te e o pai e a médica a decidirem como montar os apoios das pernas da marquesa... " NÃO OLHES PARA AQUI!!! DRA! QUERO UM LENÇOL! TAPE-ME QUE O MEU MARIDO NÃO PODE OLHAR PARA AQUI!" " Então mas você não quer assistir ao parto homem?!" "Ele quer assistir mas é aqui ao meu lado! Não vai olhar para lado nenhum a não ser o que eu vir!! Tenha dó da minha vida conjugal!!!" "Ok, ok, tome lá o lençol..." À minha volta o caos, a confusão, o enfermeiro aumentou um pouco a luz (fiz a dilatação na penumbra, foi optimo!), a parteira entrou na sala, tudo preparado, nem me lembro se entrou mais alguém, "Ana vais começar a fazer força quando sentires as contracções, queres que te diga quando elas vêm?" "Não dra., eu sinto a pressão!" Fiz força algumas vezes mas nada acontecia "A sua mulher faz muito desporto, não faz? Tem aqui um períneo rijo à prova de bala! A miuda não passa aqui nem por nada!" Uma pessoa a pensar que o desporto faz bem à saude... Só me conseguia concentrar em fazer força... "Páre, agora não faça força, aguenta, aguenta" "Eu aguento, *respira*, eu aguento, *respira*!" "Força Ana! Faz toda a força agora!!" Neste momento eu fui cortada e foram utilizados forceps para o apoio ao parto. Só ouvi a médica dizer, "Já está aqui, já está aqui, venha aqui buscar a sua bebé!!" "Porra (pensei eu... e de repente pareceu-me ver tudo em camara lenta...) como é que esta gaja quer que eu, nesta posição, vá buscar a minha bebé?! E o papá tem ordem de não olhar, passou-se ou quê?!!..." Ainda antes de terminar esta pensamento ouço o teu choro... e vejo-te coberta de sangue ser colocada na meu peito, estavas quente e choravas muito, com toda a força que conseguias!! Fiquei sem palavras e o papá só disse "Bebé! Oh bebé!" E tu abriste muito os olhos e olhaste directamente para o papá! Reconheceste a voz dele e foste logo buscar o rosto da voz...
Minutos depois o enfermeiro veio buscar-te, levou-te para a luz quentinha ali ao lado, para te limpar e tratar. Eu já estava a ser cosida e massajada no utero para a placenta sair mas só conseguia olhar para ti e para o papá que me deu beijinhos. O papá lembrou-se da máquina fotográfica que tinha levado. O enfermeiro estava cheio de problemas, não queria que o papá tirasse fotografias e o papá disse sim sehor, não vou tirar, mas tirou, tirou o som da máquina fotográfica e tirou-te fotografias assim pequenina e acabadinha de nascer!
"Oh Dra., você está-me a coser, não está?" "Estou, porquê? Quer que páre?" "Não, veja lá é se faz aí um trabalho bonito, tipo cosa isso a ponto cruz ou assim" "Ponto cruz não sei, só se for arraiolos." "Serve Dra., desde que fique bonito!"
"Agora o papá vai-se embora, adeus e até amanhã!! Adeus, adeus!!" Expulsaram-no da sala. Eu fui levada para a sala de recobro, onde já estavam outras duas mamãs. Foste a ultima bebé a nascer naquela madrugada. Pouco tempo depois trouxeram-te para perto de mim. "Quer dar de mamar?" "Claro!!!" "Então vou-lhe ensinar".
E dei-te de mamar pela primeira vez...
sábado, 17 de outubro de 2009
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